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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O forte de São Paulo

O Forte de São Paulo de Sepetiba, hoje desaparecido, localizava-se na antiga povoação de Sepetiba, hoje bairro da Zona Oeste da cidade (e Estado) do Rio de Janeiro.

Souza relata que a fortificação foi construída em 1818, em um morro pouco elevado, formando duas reentrantes, uma com a praia de Sepetiba e outra com as de Arapiranga e Piahi. Era composta de diferentes obras armados com 19 canhões, que cruzavam fogo com os fortes de São Leopoldo e São Pedro (SOUZA, 1885: 114).

O historiador Adler Homero menciona que o Forte foi construído no plano de defesa de 1822, contexto da independência do Brasil e do medo de uma possível invasão portuguesa (CASTRO, 2009: 359).

Desses 18 canhões, 12 eram de 12 libras, e o restante eram caronas de 18 libras. Era uma construção extensa e possuía um desenho de sete redentes. Em 1822, foi visitado por D. Pedro, sua construção foi supervisionada pelo Tenente do Estado Maior José Antônio Alves, a mão de obra coube aos soldados dos Henriques (milicianos negros) e escravos da Fazenda de Santa Cruz. Era uma construção de faxina, havia um paiol, armazém e quartel (sem quartel para inferiores) (Idem).

Garrido acrescenta que todas as fortificações entre a barra de Guaratiba e Sepetiba (litoral sul do então Distrito Federal, antigo Município da Corte), se encontravam, em 1838, sob o comando único do Capitão Inácio Luiz Sodré (GARRIDO, 1940: 127). As fortificações de São Pedro, São Paulo, São Leopoldo e mais Piahi, Uripiranga e Lameiro, se encontram relacionadas entre as defesas do setor Sul ("Fortificações de Sepetiba") no "Mapa das Fortificações e Fortins do Município Neutro e Província do Rio de Janeiro" de 1863, no Arquivo Nacional (CASADEI, 1994/1995:70-71).


Ao longo do século XIX o Forte de São Paulo e as demais fortificações na região foram perdendo a importância defensiva, e somado com as explorações e aterros que se fizeram na região, o forte estava em ruínas em 1885 (Op. cit., 1885: 114). Hoje não há nenhum vestígio da fortificação.

domingo, 19 de janeiro de 2014

A história perdida de Sepetiba

Por Bianca Wild (2007)

Busco neste texto demonstrar a relevância e importância da realização de uma pesquisa que procure justificar, ou melhor, explicar a descaracterização, a perda da história do bairro de Sepetiba, localizado no município do Rio de Janeiro/RJ tendo sua fundação datada do dia 5 de julho de 1567 com a chegada dos índios Tamoios.

Acredito ser necessária uma explicação ao menos para o desaparecimento “misterioso” de algumas construções de importância histórica não apenas para a localidade, mas sim, para o país, localizadas neste bairro, e também para o silenciamento no que concerne a disseminação da importância histórica do bairro, nas escolas locais em geral não se faz menção ao fato e muito menos se busca resgatar a identidade histórica do local.

Em uma de minhas tentativas em encontrar informações relevantes sobre o bairro não obtive muito sucesso, claro que me refiro aqui a uma busca superficial, e não à nível de pesquisa científica; pesquisei na internet e não encontrei muita coisa além de algumas fotos equivocadas , pois retratavam imediações como a praia da brisa e pedra de Guaratiba, que não fazem parte do bairro, claro que encontramos também fotos e vídeos do local, mas em número muito pequeno, também encontrei textos sobre o bairro de santa cruz e sua história, com menções muito superficiais ao bairro de Sepetiba, e finalmente encontrei a lei sancionada pelo vereador Jerominho onde ficava estabelecida a data de aniversário do bairro em 5 de julho, e a nível de produção literária, pesquisa etc, a única publicação que encontrei foi a obra de autoria de Alcebíades Francisco Rosa, além disso se conversarmos com os moradores do local, mesmo os mais antigos podemos notar que muito do que se sabe sobre a história do bairro acabou se perdendo, pois foi transmitida somente por meio da tradição oral.

O que mais me deixa indignada é o fato de que Sepetiba deveria ter sido reconhecida como segundo município do Rio de Janeiro devido a sua fundação datar de 1567, pelos índios tamoios.
O então príncipe regente D. João VI, reconheceu a área e terminou por baixar um decreto lei em 26 de julho de 1813, onde no mesmo ficava estabelecida a doação das terras correspondentes à área de Sepetiba aos antigos moradores (pescadores e lavradores), dividindo a terra em sítios; porém segundo Alcebíades Rosa, um dos “sitiantes” acabou perdendo suas terras em uma mesa de jogo, de um dos cassinos pertencentes a uma família conhecida como “Monastere”, que ficou com a posse do sítio, e desonestamente tentou o desmembramento das terras incluindo toda a área de fundação de Sepetiba, no processo conhecido como “Fazenda Piaí”; o paço imperial negou o recurso impetrado por tratar-se da área preservada pelo decreto lei de 26 de julho de 1813. De acordo com Alcebíades Rosa, não se sabe ao certo as razões pelas quais o antigo domínio da união “departamento de terras da união”, não se manifestou à respeito, deixando ocorrer na região de Sepetiba vários negócios ilícitos com as terras a partir de conivências cartoriais.

Talvez se Alcebíades Rosa não tivesse escrito esta obra sobre a história de Sepetiba, não teríamos conhecimento destes acontecimentos, muito embora que mesmo sendo de extrema valia, “a história de Sepetiba” ainda é muito superficial, acredito que talvez pela falta de fontes de pesquisa já que o livro por completo foi baseado em entrevistas, relatos de moradores antigos.

Alcebíades Francisco Rosa defende em sua obra a hipótese de que o progresso do bairro foi afetado por falta de pulso por parte dos órgãos federais no que diz respeito à lei imperial e ressalva que se não fossem os pescadores e lavradores, antigos moradores do local e o professor oficial da marinha Antonio Cerqueira Fontes (ocorrendo aqui uma dúvida, pois ao final do livro o autor agradece ao professor oficial da marinha “Arandu” de Cerqueira Fontes), ele mesmo jamais poderia ter concluído esta obra, pois ninguém saberia desta parte específica da história de Sepetiba; isto porque segundo o autor o desejo dos antigos republicanos era que Sepetiba se tornasse um local esquecido, desconhecido de todos, com o objetivo de esconder as atrocidades realizadas por eles neste local.

De acordo com Francisco Rosa, D. João VI e a corte foram convencidos a visitar Sepetiba pelos padres da companhia de Jesus e após percorrer o litoral decidiu que o mesmo seria apropriado para a navegação; e ordenou a construção de um cais, na localidade conhecida como “ilha da pescaria” e de duas pontes ligando a ilha ao continente, e antes mesmo da inauguração do cais e das pontes, três vapores foram utilizados para o transporte de carga e passageiros entre Sepetiba e o porto de Santos, e assim o príncipe regente elevou Sepetiba a condição de província, o que nunca havia aprendido na escola, ou melhor nunca havia ouvido falar.

Outro fato muito confuso e misterioso é que D, João VI havia mandado que fossem construídos dois fortes, o primeiro chamou-se de “Forte de São Pedro” localizado no morro de Sepetiba, na época conhecido como “mirante”, onde hoje encontra-se o radar da base aérea de santa cruz, o segundo forte chamou-se “São Leopoldo”, construído no então “morro do Piranga” hoje conhecido como Ipiranga localizado na divisão entre a praia de D. Luiza ( Recôncavo ) e a praia do Cardo, a dúvida e/ou o mistério: Por que não houve interesse em manter-se erguida as construções? Ou mesmo no caso de terem sido parcialmente destruídas e/ou estarem danificadas pelo tempo, em condições ruins, porque não mantê-las ali, em seu local de origem? Porque não nos restaram ao menos ruínas? Pedaços? Nada que nos remeta aos fortes antes ali existentes? Ou ao Cais?

O fato de que a família real freqüentava Sepetiba durante o verão, possuía uma área de lazer onde se encontra hoje a praça Washington Luiz, quase nunca é mencionado, em Sepetiba eram realizadas belíssimas touradas com toureadores vindos diretamente da Espanha, também eram realizados saraus maravilhosos etc., Também não se divulga o fato de que o conhecido Visconde de Sepetiba (Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho, nascido em Niterói,que foi um juiz de órfãos e político brasileiro.Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, deputado geral, presidente das Províncias de São Paulo e do Rio de Janeiro, ministro da Justiça (1840) e dos Negócios Estrangeiros (1841), e senador do Império do Brasil de 1843 a 1855. Líder do chamado Clube da Joana, exerceu enorme influência sobre o Imperador D. Pedro II no início de seu reinado), possuía uma casa (Casa da Esquina) no bairro de Sepetiba que confrontava com a colônia Z15 (pescadores). Com o advento da proclamação da república em 1889, as coisas começaram a modificar-se bastante para Sepetiba, segundo Alcebíades Rosa, insurretos da revolução armada ocorrida em santa Catarina, estavam a bordo de um navio a caminho do Rio de Janeiro que teria sido atingido justamente na praia de Sepetiba ao cruzarem a baía (o nome deste navio no livro de Alcebíades Rosa consta como “Custódio de Mello” o que é impossível, pois o primeiro navio lançado ao mar com este nome data do ano de 1954, e além disso o referido almirante Custódio de Melllo ainda estava vivo, logo não poderia receber homenagem póstuma e teria participado da revolução da armada), os tripulantes teriam sido presos, levados para a chamada ilha da pescaria e fuzilados, sabemos disso por intermédio de Alcebíades Rosa e dos relatos dos moradores mais antigos dados a ele, que talvez não estejam mais entre nós, a questão é: Será verdade? Existem inúmeras histórias envolvendo Sepetiba, e até mesmo esta obra de Alcebíades não possui muito respaldo histórico, pois é basicamente composta por relatos de moradores antigos, não possuí ao menos referências bibliográficas, anexos de documentos etc.

Sepetiba ao que tudo indica possui uma história rica, repleta de acontecimentos importantes para a formação do país, a história desta localidade precisa ser resgatada, contada, e assim estimular-se à auto estima dos moradores desse bairro que um dia seria província, julgo primordial esse resgate e a realização de uma pesquisa que busque comprovar e descobrir as verdades, causas, historicidade etc deste local e uma explicação para o tamanho descaso para com a identidade histórica de Sepetiba, acredito ser muito importante a disseminação de um estudo (pesquisa) sobre esta descaracterização e destruição da historicidade local para os estudantes não só do curso de história mas também de outros cursos moradores da zona oeste e é claro para a população local, pois uma história não pode ser esquecida, apagada, destruída desta forma, sem constrangimentos, sem motivos, causas ou culpados a serem apontados. 

Bianca Wild
Links interessantes:

FORTE DE SÃO LEOPOLDO DE SEPETIBA

 O Forte de São Leopoldo de Sepetiba, hoje desaparecido, estava localizado na ponta de terra que separa as atuais praias do Cardo (antiga praia de Arapiranga) e de D. Luiza (considerada como parte da praia do Piahi), sobre o Morro de Sepetiba, no Rio de Janeiro.

De acordo com Souza (1885), o Forte de São Leopoldo foi erguido em 1818 para defesa daquele ancoradouro (SOUZA, 2009: 114).

Adler Homero menciona que o Forte foi construído no plano de defesa de 1822, contexto da independência do Brasil e do medo de uma possível invasão portuguesa (CASTRO: 2009, p.359).

Sua construção objetivava impedir o desembarque inimigo no local, pois, Sepetiba por ser calma e próxima à Fazenda de Santa Cruz, era considerada um provável local de risco (Idem).

Os trabalhos ficaram sob responsabilidade do Tenente do estado-maior José Antônio Alves, com mão-de-obra feita pelos Henriques (milicianos negros) e escravos da fazenda de Santa Cruz (Ibidem, 360).

Em posição dominante, de faxina e taipa, revestido de grama, apresentava duas baterias, uma artilhada com cinco peças, batendo praia de Sepetiba e as ilhas da Pescaria e do Tatú, e outra, artilhada com quatro peças, batendo o terreno até a um alagadiço que então existia no extremo da praia. Cooperava com o Forte de São Paulo de Sepetiba, com quem cruzava fogos (Op. cit., 1885: 114). Homero descreveu de forma mais detalhada a construção da bateria, de acordo com o historiador se tratava de uma bateria alta, a 15 metros do nível do mar, os parapeitos era revestidos internamente de alvenaria, com algumas plataformas de canhões feitas em tijolo. Das 4 peças existentes todas eram de calibre 12 e havia uma caronada de 18 libras. Junto a essa posição existia um entrincheiramento baixo, com traçado italiano (com dois baluartes) de 110 metros, estava artilhada com 4 caronadas de 18 libras, feita de taipa, com três metros de espessura (Op. cit., 2009: 360).

Garrido acrescenta que todas as fortificações entre a barra de Guaratiba e Sepetiba (litoral sul do então Distrito Federal, antigo Município da Corte), se encontravam, em 1838, sob o comando único do Capitão Inácio Luiz Sodré (GARRIDO, 1940: 127). As fortificações de São Pedro, São Paulo, São Leopoldo e mais Piahi, Uripiranga e Lameiro, se encontram relacionadas entre as defesas do setor Sul ("Fortificações de Sepetiba") no "Mapa das Fortificações e Fortins do Município Neutro e Província do Rio de Janeiro" de 1863, no Arquivo Nacional (CASADEI, 1994/1995:70-71).

Ao longo do século XIX o Forte de São Leopoldo e as demais fortificações na região foram perdendo a importância defensiva, e somado com as explorações e aterros que se fizeram na região, o forte estava em ruínas em 1885 (Op. cit., 1885: 114). Hoje não há nenhum vestígio da fortificação.

Entendendo o Movimento Ecomuseu Sepetiba (2011)

Entendendo o Movimento Ecomuseu Sepetiba



Os anos de 2007 e 2008 são especiais para o Movimento Ecomuseu Sepetiba, pois se inicia uma reaproximação da população de Sepetiba com a sua história, e, podemos dizer um reconhecimento da memória coletiva local, a partir do ano de 2007 foram publicados em diversos sites textos sobre a história do bairro, despertando empenho e motivação em muitos moradores, em 2008, ano internacional do planeta Terra, do Saneamento e do poder do Cidadão foi realizada a primeira comemoração do aniversário do bairro objetivando expor a história local, mostrar o valor do bairro, de seus moradores, “resgatando” a auto-estima despedaçada desta sofrida população.
Em 2009, ano internacional da reconciliação e da aprendizagem sobre os direitos humanos ocorreu o estabelecimento da “Semana de Sepetiba”, e através da realização da I Jornada de Formação em Museologia comunitária aconteceu a 1ª Roda de Lembranças de Sepetiba, onde, nós, moradores descobrimos o significado da Ecomuseologia, dos Ecomuseus , e entendemos como a criação do Movimento Ecomuseu Sepetiba seria de suma importância para a recuperação e preservação de nossos bens naturais, culturais e históricos.
Vale a pena ressaltar que, antes mesmo da divulgação da história do bairro on line, da realização da 1ª festa em comemoração do aniversário do bairro buscando o enaltecimento de sua história, da Semana de Sepetiba e da roda de lembranças de Sepetiba, vários outros acontecimentos, como passeatas, configuram ações que poderiam ser incorporadas como antecedentes do processo de reconhecimento ecomuseológico de Sepetiba, o primeiro “abraço a praia de sepetiba”, a passeata S.O.S baía de Sepetiba, os protestos ocorridos durante o aniversário de 441 anos do bairro dentre outros movimentos comunitários.
O movimento Ecomuseu Sepetiba germinou uma esperança de renovação, transformação e renascimento no coração dos moradores do bairro, do vínculo com o passado se extrai a força para a formação da identidade (Bosi, 2004), de acordo com Stuart Hall , a identidade preenche o espaço entre o interior e o exterior, entre o mundo pessoal e o mundo público, bem como o fato de que projetamos a nós mesmos nessas identidades culturais, ao mesmo tempo em que internalizamos seus significados e valores tornando-os “parte de nós”, contribuindo para ornarmos nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural, entende-se então que a identidade “costura” o sujeito à estrutura, estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e predezíveis.
Há muito tempo a auto-estima da população do bairro de Sepetiba, enquanto moradores vem desaparecendo, e com ela perde-se os vínculos com o bairro, ocasinando o desinteresse em atividades de reivindicação, para tanto atuaremos também como projeto de desenvolvimento comunitário sustentável buscando transformar a realidade local de exclusão social, cultural e principalmente econômica, atuaremos nas áreas de cultura, meio ambiente, pesquisa e educação através de diversas atividades em educação patrimonial envolvendo a comunidade. Nossa missão: pesquisar, manter, documentar, decifrar, valorizar e disseminar testemunhos do Homem e do meio, objetivando colaborar para a construção e a transmissão das memórias coletivas e para um desenvolvimento local sustentável e integral.
A memória tem um papel fundamental na construção da identidade, tanto individual quanto coletiva, memória e identidade não devem ser compreendidas como manifestações de alguma essência do individuo ou do grupo, mas sim fenômenos que se constroem socialmente e que, portanto, não estão isentos de mudanças desenvolvidas em virtude das “preocupações pessoais e políticas do momento” (Pollak, 1992, p. 201). Ocorreu em Sepetiba, um desaparecimento dos relatos referentes a memória coletiva da região, a partir da divulgação e da exaltação da história do bairro e de seus encantos de diversas formas, viabiliza-se o surgimento de uma nova realidade para a população esquecida deste “Recanto” desprezado da zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro, identificado como “bairro dormitório”, um dos motivos da ausência de mobilização por parte da população até então.
Pierre Nora caracteriza a circunstância em que o passado vai cedendo seu lugar para a idéia do eterno presente através do uso da expressão aceleração da história em seu artigo “entre memória e História: a problemática dos lugares” (1993). Nesse momento, segurar traços e vestígios é a maneira de se opor ao efeito devastador e desintegrador da rapidez contemporânea, da degradação ambiental ocasionada pelo desenvolvimento desmedido sem preocupação com o meio ambiente, o que debatemos em especial no movimento e em nossa pesquisa.
A memória não pode mais ser vista como um processo parcial e limitado de lembrar fatos passados, de valor acessório para as ciências humanas, na verdade ela se apóia na construção de referenciais de diferentes grupos sociais sobre o passado e o presente, respaldados nas tradições e ligados a mudanças culturais (Fabiano Junqueira de Freitas e Paula lou Ane Matos Braga), a memória para o movimento Ecomuseu Sepetiba tem um alcance transformador, unificador e principalmente auxilia na construção das identidades.
 De acordo com Henri Revièri, o ecomuseu “É um espelho no qual a população local se revê para descobrir a sua própria imagem, na qual procura uma explicação do território ao qual está ligada e das populações que lhe precederam, vistas como circunscritas no tempo ou em termos de continuidade de gerações. É um espelho que a população local mostra aos seus visitantes para que seja melhor entendida (...)”(H. Rivière, 1998). Um de nossos lemas: “Espelho onde se revê, e se descobre a própria imagem.”
 O Movimento Ecomuseu Sepetiba possui um ponto de vista de democracia participativa e uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, assegurando o direito e o dever das comunidades de preservarem a sua identidade cultural.
Partindo da afirmação de Le Goff, onde este autor defende uma finalidade libertária para a memória “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procurava salvar o passado para servir o presente e o futuro”. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens” (Le Goff, 2003, p.477) .
O Movimento Ecomuseu Sepetiba buscará garantir a conservação do patrimônio natural e cultural local, uma grande diversidade de patrimônios - móvel, imóvel; material e imaterial – Tangível e intangível, busca a articulação de eixos temáticos e a multi e interdisciplinaridade no seu trabalho. Bem como criar dinâmicas geradoras de desenvolvimento.
Le Goff afirma que a memória coletiva, ao longo da história do mundo, tem sido posta em jogo na luta das forças sociais pelo poder e, é formada tanto de lembranças, quanto de esquecimentos, produzidos por diversas instâncias sociais. Por isso o autor alerta para os riscos do controle da memória coletiva, principalmente pelos governos (Le Goff, 2003, 471), com o crescimento populacional desordenado que aqui ocorreu no passado e continua a ocorrer, justo por tratar-se de uma região afastada onde ocorreram e ocorrem muitas ações ilegais, apropriações e desapropriações de terras dentre outros fatos que justificam o desinteresse na manutenção da historicidade desta localidade, a sustentação da alienação e desinformação dos moradores locais, bem como a ausência de visibilidade do bairro.
 Sendo assim vale a pensa destacar, segundo Lê Goff, “O documento não é inócuo (...) resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias. No limite, não existe um documento-verdade” .( Le Goff, 2003, 537).
Mario de Souza Chagas, nos esclarece que se dirigir ao passado, sem nenhuma perspectiva de mudança, implica a comemoração da ordem estabelecida, a afirmação da ordem jurídica, dos valores culturais dados, da verdade científica imposta, precisamente o motivo pelo qual buscamos a transformação das perspectivas dos moradores da região através do “restabelecimento” da importância histórica, da memória coletiva local desaparecida ocasionando uma ruptura no processo de alienação e exclusão imposto a esta população.
De acordo com Mario de Souza chagas o patrimônio não é pacífico, envolve determinados riscos e pode ser utilizado para atender a diferentes interesses políticos. Segundo o autor o interesse no patrimônio não se justifica pelo vínculo com o passado seja ele qual for, mas sim pela sua conexão com os problemas fragmentados da atualidade, a vida dos seres humanos em relação com outros seres, coisas, palavras, sentimentos e idéias.
A memória enquanto reconstrução do passado no presente, ou enquanto determinações do passado sobre o presente, pode tanto “escravizar” como “libertar”; a lembrança e o esquecimento, manifestações da memória nos indivíduos, só adquirem significado mais amplo se analisados na especificidade do contexto histórico de sua construção passada e de sua narração presente. Como conseqüência debruçar-se sobre a memória não significa a reconstrução integral de como teria sido o passado, posto que passou, mas sim a presença deste no presente, consciente ou inconsciente. (Pacano, 2005)

 



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Espelho Onde se "Revê" e se Descobre a Própria Imagem o Movimento Ecomuseu Sepetiba – Desafios e Perspectiva

Por: Bianca Wild
Resumo:
O bairro de Sepetiba,localizado na cidade doRio de Janeiro, vem ao longo de sua história sofrendo mudanças que levaram a um processo de estagnação politica e econômica, provocada, em especial, nos ultimos anos, pela dagradação ambiental sofrida, seja pela criação de um distrito industrial no bairro de Santa Cruz  e /ou pela criação de um porto na cidade de Itaguaí. O espelho é uma analogia que simboliza um dos eixos de ação do Movimento Ecomuseu de Sepetiba, que é a recuperação da auto-estima dos moradores.
O ecomuseu surge assim, como um instumento que nos permite reconhecer e redescobrir o que nos dá identidade, mesmo que no presente, o que nos configura não é somente o belo do passado, mas o desejo de transformação, de mudança para um futuro melhor. Nesse processo de três anos, o ecomuseu vem conquistando mais espaço e mobilizando cada vez mais o bairro de Sepetiba.
Palavras chave: Identidade – Memória – Patrimônio - Mobilização
O discurso que prioriza o desenvolvimento social já é lugar comum em nossa sociedade, contudo basta um olhar mais aguçado para constatarmos que na maioria das grandes cidades do nosso colossal Brasil nunca há um planejamento adequado de infra-estrutura para a população. Desenvolvimento / crescimento não são análogos, e em nosso caso a urbanização desenfreada, a febre industrial, o deslocamento de populações inteiras principalmente durante o governo Lacerda, dentre outros fatores contribuíram e muito para atual situação da região aqui apresentada, Sepetiba, bairro da cidade do Rio de Janeiro. Identificar esse fenômeno social exige um exame mais aprofundado, entretanto faremos aqui uma breve análise das transformações sociais; das relações de poder envolvidas na questão a ser avaliada.
O presente texto tem por escopo oferecer subsídios para a compreensão do fenômeno social que tem sua visibilidade assegurada pelo processo de degradação e preterição da memória do bairro carioca de Sepetiba. Adotando uma postura reflexiva que prima, sobretudo, pelo debate e pela valorização desta localidade. Prevê-se ainda, como base preliminar o teste das teias discursivas nas quais se opera a negação da identidade e dos símbolos dessa localidade que tudo teria para requerer o status de um centro alternativo da cidade do Rio de Janeiro.
Um longo caminho a ser trilhado
O dia 25 de outubro de 2009 nunca mais será esquecido pelos precursores do Movimento Ecomuseu Sepetiba, pois desencadeou um processo de reconhecimento, uma “redescoberta”. Neste dia o bairro foi presenteado com a sua inclusão no roteiro da I Jornada de formação em Museologia comunitária realizada pela SMC/ Coord. de Museus, Ecomuseu de Santa Cruz, NOPH, ABREMC, UMCO, através da realização de uma Roda de Lembranças no Centro Comunitário Santo Expedito (Sepetiba).
Iniciava-se então o “Movimento Ecomuseu Sepetiba”. O reconhecimento enquanto processo ecomuseológico encaixou-se perfeitamente nas necessidades da comunidade e do meio ambiente da região, pois o Ecomuseu vai além da ecologia, seu conceito é muito mais complexo, o termo está ligado a numerosos outros conceitos como o de território, espaço como objeto de interpretação, reserva ambiental dentre outros, lugar de memória viva. Sepetiba é rica em histórias e memórias, e ainda existem muitos moradores e moradoras interessados em perpetuá-las, sabendo que o ecomuseu é representativo ele deve decorrer do território e de sua população, como afirma Hugues de Varine é essencialmente cooperativo, e justamente nesta questão encontra-se o nosso grande desafio, a participação e a mobilização dos habitantes. (VARINE, 2006)
Devido a todo o processo de degradação ambiental ocorrido na localidade aqui tratada, famílias inteiras viram-se desamparadas economicamente, pois viviam da pesca, do turismo, e de todo o resto de atividades econômicas relacionadas com o meio ambiente, com a baía de Sepetiba. Com a degradação da baía o único meio de subsistência dessas famílias foi-lhes tirado, já não podem viver exclusivamente da pesca, toda a comunidade era voltada para atividades relacionadas ao turismo e a pesca, conseqüentemente dependia das temporadas de veraneio, há necessidade de um trabalho intenso e ininterrupto para ajudar na recuperação da economia local, da auto-estima dos moradores e no desenvolvimento.
Nas palavras de Odalice Priosti o Ecomuseu:
“é um espaço de relações entre uma comunidade e seu ambiente natural e cultural, onde se desenvolve, através das ações de iniciativa comunitária, um processo gradativamente consciente e pedagógico de patrimonialização, apropriação e responsabilização dessa comunidade com a transmissão, cuidado e transformação do patrimônio comum e, consequentemente, com a criação do patrimônio do futuro”. (apud: MAGALDI, 2006)
O Ecomuseu ao labutar em favor do desenvolvimento da comunidade deve levar em conta os problemas e questões colocadas em seu âmago tratando-os de maneira crítica analítica e estimulando o processo de conscientização, mobilização e a criatividade da população, para isso utilizando as informações do seu passado e presente para que ela venha a pensar o futuro de forma questionadora e esperançosa. Logo “(...) todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje (...). Temos de saber o que fomos, para saber o que seremos”. (FREIRE, 1982, p. 33)
Sepetiba foi palco de importantes acontecimentos durante as três principais fases da história do país: Brasil Colônia, império e república; povoado pelos corajosos índios Tamoios, foi aldeamento jesuítico, cenário da batalha naval contra os holandeses, sua baía e praias serviram de local de desembarque para o quinto do ouro, tráfico do mesmo, tráfico de escravos, de pau-brasil, cenário da luta dos corsários dentre outros muitos acontecimentos. Personagens históricas passaram pelo bairro de Sepetiba e navegaram pela baía reconhecendo sua beleza e tranqüilidade, como D. João VI, D. Pedro I, D. Leopoldina, José Bonifácio, o Visconde de Sepetiba, Jean Baptiste Debret dentre muitos outros; abrigou republicanos e anti-republicanos; foi cenário da tragédia ocorrida durante o período de transição Império/República: o fuzilamento dos marinheiros na ilha da pescaria (Ilha dos marinheiros) saraus, touradas eram realizados constantemente, as cirandas características da população caiçara local, dentre muitos outros eventos não disseminados ou com sua veracidade ainda não comprovada.
A partir de uma série de movimentos, iniciativas individuais e de grupos locais a situação de descaso, “esquecimento” e a consequente desvalorização por parte dos moradores (as) vem se transformando, desde a década de 1990 com ações como os “abraços” simbólicos na praia de Sepetiba, o enterro simbólico da praia etc.,realizados por grupos como o S.O.S baía de Sepetiba, CORES (comissão de revitalização de Sepetiba) etc. contudo o descaso das autoridades competentes para com a região é notório. No momento estão sendo realizadas obras de reabilitação ambiental na praia de Sepetiba, uma pequena extensão da praia de Sepetiba foi aterrada por mantas de geotêxtil e areia, entretanto Sepetiba possui outras duas praias, a do Recôncavo ou Dona Luíza e a praia do Cardo, onde nada está sendo realizado.
A roda de lembranças e a comemoração do aniversário do bairro que havia sido esquecida desde o inicio da década de 1990, voltando a ser realizada no ano de 2008 despertaram de certa forma um orgulho que havia adormecido nos moradores (as) do local, pois a partir deste ano foram expostas fotografias antigas, textos, livros sobre o bairro, matérias de jornais antigos etc., que possibilitaram aos novos moradores a “descoberta” do seu bairro e aos antigos a “redescoberta”.
Quando fazemos a analogia ao espelho, podemos ser mal compreendidos, principalmente em uma localidade comprometida, com sua paisagem “desfigurada” e degradada [1] como Sepetiba, entretanto de forma alguma pretendemos culpabilizar os moradores, o que ocorre neste local é conseqüência de todo um sistema, de uma divisão da cidade que vem se configurando há muito tempo, desde a primeira república, a divisão das regiões da cidade, dos bairros mostra os seus objetivos, separar a população e priorizar determinadas regiões / localidades, pouco se sabe e pouco se deseja saber sobre as relações de poder que estão na base da dialética da exclusão, como algumas localidades foram de fato excluídas e quais foram as lutas ainda longe de serem concluídas que nos trouxeram até esse momento, no qual, pelo menos tais lutas tornaram-se verdadeiras.
Como dito anteriormente, a realização de uma oficina durante a I Jornada de Formação em Museologia Comunitária despertou nos moradores do bairro a necessidade de organizar e orientar o seu desenvolvimento com participação democrática, usando a “ferramenta” Ecomuseu.
Isso nos gera novas questões que remetem ao tema deste encontro. Como permitir que quem deseja participar ativamente do processo do nosso Ecomuseu, realize essa atividade da melhor maneira possível? A resposta mais assertiva é a Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local em sepetiba.
Nestes quase três anos, nos encontramos em um processo de envolvimento comunitário, ou seja, tentando abranger a comunidade como um todo; o Movimento Ecomuseu Sepetiba vem realizando uma série de atividades, que em primeiro momento, motiva e reune um grupo de pessoas que buscam liderar, ou melhor, facilitar esse processo ecomuseológico. Mas trata-se de um processo lento e difícil, gradual, a população local é habituada com politicagem e espera imediatismo, o que em um processo ecomuseal não é possível.
Nesse contexto, estamos estudando e adaptando à nossa realidade, as técnicas aprendidas aqui no Brasil e em outros países, em especial, com a experiência mexicana, nos permitem avançar mais no processo de sensibilizar e despertar nos moradores o sentimento de pertencimento, elemento fundamental para uma participação comunitária efetiva.
A nossa perspectiva para a capacitação de nossos atores está focada no diálogo com as diversas instituições do bairro, onde nos preocupamos em aumentar a rede de participantes e na elaboração de um plano de trabalho anual com a realização de oficinas sobre museologia comunitária, participação e liderança comunitária, aprofundamento nos conhecimentos do território e da história local, para que esse grupo possa mobilizar de maneira dinâmica, a comunidade do bairro de sepetiba.
Referências bibliográficas:
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez Editora, 1982.
____________Educação como Prática de Liberdade. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e     
     Terra, 1983.
_____________Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários a Prática Educativa.
33 ed.  São Paulo. Paz e Terra, 1996.
MAGALDI, Monique Batista. O Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro de
Santa Cruz: Estrutura e Propostas. 2006. Disponível
em:
VARINE, Hugues. O Museu Comunitário é Herético?. Trad. O.M.P. Quarteirão, Rio de Janeiro, Abr, p.12, 2006.

[1] *Bianca Wild – Cientista social/FEUC-FIC/RJ e Especialista em gênero e sexualidade UERJ/ PPGMS ;  Articuladora do movimento  Ecomuseu  Sepetiba  - Rio de Janeiro / Diretora de Raça, gênero e etnia da UNEGRO pólo I.A.O/ Sepetiba / Docente SEEDUC RJ -  biancawild@gmail.com
[2] Para entendermos como as modificações na paisagem natural deste bairro, os reflexos desse crescimento e “desenvolvimento” influenciaram na vida, na construção das identidades dos moradores (as), na auto-estima etc. precisamos entender  a paisagem enquanto patrimônio e alguns conceitos básicos como o de   lugar enquanto espaço onde vivenciamos nossas experiências e o de paisagem, que pode mostrar como se organizou uma sociedade em um determinado momento histórico, ao longo dos anos de sua existência.
“A paisagem não é boa, nem má, e sim um reflexo, e faz parte do ambiente cultural (cultura viva- paisagem / gestão coerente da paisagem).”O objetivo de qualidade paisagística deve ser formulado pelas autoridades competentes, não se deixando de levar em consideração a responsabilidade e a participação da comunidade nesse procedimento.(...) a coletividade, a interação na gestão, criação e elaboração de programas de desenvolvimento é imprescindível (indústria/empresa  intervenções sobre os domínios para o desenvolvimento a partir de uma ação conjunta).”(Anotações pessoais da conferência: Comunidade, Patrimônio, Paisagem e Desenvolvimento Local - ministrada por  Hugues de Varine,  no Colóquio: Comunidade, Indústria e Desenvolvimento Local – O Diálogo Possível  - 2011)

Reflexões acerca do que sabemos sobre a história de Sepetiba

Reflexões acerca do que sabemos sobre a história de Sepetiba

Reflexões acerca do que sabemos sobre a história de Sepetiba
Por Bianca wild


Até então uma das únicas referências bibliográficas acerca da história de nosso querido bairro de Sepetiba era o livro do escritor e morador de Sepetiba Alcebíades Rosa “A história de Sepetiba” porém, ao “revisitarmos” documentos, ouvirmos relatos etc. percebemos que muito do que sabemos e do que lemos é um tanto quanto contraditório.

A obra de Alcebídes é importantíssima para nós, moradores do bairro de Sepetiba, e merece o status de precursora, entretanto não possuí rigor científico, no que concerne a história e memória do bairro pouco ,ou quase nada foi escrito e divulgado a respeito, inclusive até mesmo órgãos públicos precisaram consultar textos publicados por nós em diversos sites para possuírem referencias quanto a história do bairro e, agora com a continuidade de nossas pesquisas também serão textos com alguns equívocos, pois não estamos livres de erros e contradições.
Eis o motivo : ao investigarmos alguns documentos notamos um dos primeiros erros:
“Essa praia tem sua história , como todos os lugares, (...) nos últimos dias do século passado (XIX) havia em Sepetiba uma linha regular de navegação para os portos do estado do Rio de Janeiro e São Paulo, essa linha dispunha de dois vapores confortáveis, embora pequenos, eram o Angra dos Reis e o Sepetiba, uma ponte de quase duzentos metros de boa argamassa, ligava a ilha da pescaria (hoje ilha dos marinheiros) a terra firme e um bonde de tração animal, partia diariamente da estação de Santa Cruz para Sepetiba repleto de passageiros (...)
Trecho retirado de documento sobre o fuzilamento de 1893.

Acreditávamos que os vapores que circulavam em nossa baía eram o Eco, Lamego e Uranus, de origem militar, transformados em transporte de passageiros, porém vemos que a história é diferente, possuíamos apenas dois vapores o Angra dos Reis e o Sepetiba, pequenos porém de acordo com o texto funcionais e úteis a população.


Aqui outros trechos do referido documento:


“(...)Embora a Ferro Carril fizesse trafegar seus bondes diariamente, pela manhã e a tarde, os passageiros que se destinavam aos estados situados, vinham no próprio dia da viagem, tal era portanto a confiança que tinham na regularidade das viagens, que estavam em correspondência com o horário da navegação.

Um sobrado bem construído cujos vestígios ainda se conservam na praia de Sepetiba era o centro das operações da companhia.(...)”

Esse fato, da credibilidade e freqüência dos bondes e a correspondência com os horários dos vapores não nos foi contado, do sobrado onde localizava-se o centro de operações da companhia não existem mais vestígios, ou será que o prédio ao lado da colônia Z-15/ que já foi Z-9 e hoje não sei exatamente qual é , se situa é remanescente deste sobrado? Por que tantos fatos e tantas histórias nos foram omitidos, negados?


Mais um trecho:


“O Senhor Caldas, engenheiro chefe do tráfego, que com a extinção da companhia fez-se funcionário público até que mais tarde veio a falecer,seu nome se liga hoje a um recanto da praia (praia do Caldas). Nos dias dos vapores, as famílias praieiras vêm as manhãs divertidas a espera dos bondinhos que não tardam a chegar.”


Outro questão controversa a respeito de nossa história: o nome praia do Cardo. Alguns se referem a este recanto como denominado praia do Cardo devido a abundância de uma planta que existia por ali, o cardo pertence à família das Asteraceae e cresce em locais rochosos, sobretudo em terrenos barrentos, podendo ser encontrado na forma selvagem ou cultivada, o que pode reforçar esta tese, pois ali era um local barrento de acordo com alguns documentos e relatos. Outra versão diz que a localidade foi assim denominada devido ao nome de um morador Chamado Ricardo, apelidado “Cardo”, qual seria a verdadeira? E a praia do Caldas? Qual a versão? Por que essas histórias não foram divulgadas e contadas nas escolas locais ? Por que essa falta de valorização até bem pouco tempo atrás?


Outro trecho:

“(...)Em 6 de Setembro de 1893, estalou no Rio de Janeiro a revolta da armada com o almirante José Custódio de Melo a sua frente. Todos os navios (...) no porto fosse de guerra ou mercante, hastearam a bandeira da revolução, sendo que alguns haviam saído barra a fora, rumo ao sul. Depois mais outros.Era então boato corrente, veiculado pelos passageiros ou curiosos que chegavam do Rio, que Sepetiba seria ocupada militarmente. Ora, o corpo do exercito estacionado em Santa Cruz, estava sendo movimentado a toda pressa para descer, a fim de ocupar os pontos estratégicos indicados por Floriano Peixoto.Por outro lado, esses militares mesmos, transmitiam aos pescadores e suas famílias a notícia da segunda ordem recebida no quartel de Santa Cruz, a qual dizia que uma parte do corpo ficaria em Santa Cruz para defender um desembarque que estaria iminente em Sepetiba.(...)”
“(...)Agora os bondinhos, os vagões e outros transportes usados nos serviços da companhia não tinham mais horários.Sepetiba, como Santa Cruz em alvoroço experimentou, pela primeira vez, a sensação que o medo da guerra cria.mas tudo isso ficou pela metade, nenhum navio apareceu em Sepetiba. E dessa localidade mesmo, viam os sepetibanos a passagem de vasos revoltados para o sul.De noite, a luz forte de possantes holofotes tudo iluminava e eles acautelavam-se da melhor maneira possível. Passados os primeiros dias de inquietação, os pescadores retomaram o seu serviço de pesca e se acostumaram, pouco a pouco, paisanos e soldados, na vida de precauções que os acontecimentos impunham.(...)”
“(...)Foi ocupado o morro da faxina como os outros, onde antigamente os coloniais haviam deixado vestígios de fortificações e velhos morteiros de bronze, o que se vê até hoje em alguns recantos da praia.
Decretada a criação da guarda nacional com bons ordenados, Sepetiba foi contemplada e muitos receberam a notícia com bastante prazer, sentindo-se honrados com as suas divisas amarelas de cabos e sargentos.Também conhecemos ali alguns oficiais do primeiro posto nomeados nos primeiros decretos. Dissemos que a pacata Sepetiba tinha mudado seu modo de viver com os acontecimentos decorrentes da Revolta da armada,tendo mesmo alguns naturais sido recrutados para a guarda nacional.Agora podemos acrescentar que este estado de coisas prolongou-se por alguns meses, porque de toda parte um grande número de cidadãos foi chamado ao serviço das armadas de Sepetiba, porém, preferia a guarda - nacional, (...)era de mais fácil acesso, as divisas amarelas da Guarda – Nacional convidava-os e um com número de filhos de pescadores apareceram logo nas suas fileiras(...)”

Se vê hoje resquícios deste período? Não! Nada remete os moradores atuais a esses tempos, inclusive diz-se que o “Morro do Ipiranga” hoje tombado como patrimônio natural e cultural juntamente com o Coreto e a praia do Recôncavo e do Cardo possuía também esses resquícios. Outra questão: por que não tombar a praia de Sepetiba e a Igreja de são Pedro?

Podemos verificar neste trecho outros equívocos existentes nas obras e textos sobre Sepetiba: “(...)na Marambaia e na Ilha grande, uma vez outra, havia troca de tiros, com os canhões dos revoltosos e os pequenos fortes do litoral, até que num dia de janeiro de 1894, pela tardinha, surgiu na praia de Sepetiba o pequeno vapor Lamego, forçado que foi para entregar-se,pois, suspeitava-se que o navio iria incorporar-se aos revoltosos.Isso proporcionou aos moradores de Sepetiba e Santa Cruz dias de grandes sustos e surpresas.A todo momento os boatos surgiam na boca daquele povo,sempre desacostumado aos fatos belicosos da revolução.
E tinham razão para isso, porque com o Lamego, foram capturados muitos marinheiros, e a justiça marcial não se fez esperar, o comandante (...) um major bastante impulsivo, Florianista ao extremo, fez levar vinte e um (21) deles para a Ilha da Pescaria, onde até então havia o porto da companhia Rio – São Paulo, e mandou fuzila-los sem mais delongas. E tudo só caiu muito mal no animo daquela gente.Durante muitos anos, ali (...) eram vistas cruzes, indicando as suas sepulturas.Míseros brasileiros que não eram culpados e sim obedientes às ordens de seus comandantes no mar!(...)”
“(...)E com esse caso ocorrido, que nunca ficou bem apurado, surgiram os boatos que após a chegada do Lamego, que ali estava ancorado chegariam para vir busca-lo outros navios de guerra.E, um dia, por causa disso,noticiou-se a presença do Aquidabã, que já estaria em Sepetiba e forçara a barra do Rio Ita para entrar em Santa Cruz, onde tinha sede o 5º regimento de artilharia.
Isso produziu quase um pânico, sendo que o próprio diretor do Matadouro público, o coronel reformado, Florambel da Conceição, chegou a preocupar-se tanto, que fez a secretária, sua filha, transmitir despachos telégrafos para Sepetiba e outros pontos, pedindo informações.(...)Entre Sepetiba e a praça Santa Cruz, que tudo isso era considerado zona de guerra, transitavam constantemente coronéis com seu estado maior. Eram eles: o Dr. Fernando Continentino, Teixeira da Mota, Avô do Almirante, tão conhecido hoje, Álvaro Alberto, e ainda o coronel Jorge Pinho, depois escrivão de Campo-grande ,visto que também Campo-Grande era subordinado ao comando de santa Cruz.(...)”


O Aquidabã esteve realmente em “águas Sepetibanas”? Por que estes momentos cruciais e importantes para a formação de nosso país ,de nossa “identidade nacional” não foram transmitidos?

Esses e outros equívocos estão sendo apurados pelo grupo de estudos do Movimento Ecomuseu de Sepetiba, por que como diz o lema do NOPH Santa Cruz/ Ecomuseu: Um povo só preserva aquilo ama. Um povo só ama aquilo que conhece.”
E como dizemos: Sepetiba está viva! Tem história! E vontade de transformação: Somos “Espelho onde nos revemos e descobrimos a nossa própria imagem”

SEPETIBA NA ROTA DA INDEPENDÊNCIA


De Sinvaldo do Nascimento Souza


Sepetiba, o antigo povoado dos pescadores (...) testemunhou encontros importantíssimos que precedem o périplo de independência do Brasil.Depois da chamada “Revolução Liberal” da cidade do Porto, deflagrada em Portugal no ano de 1820, o rei D. João VI que se encontrava no Brasil foi obrigado a retornar para a Europa, correndo sério risco de perder seu lugar no trono.As “cortes lusitanas”, por sua vez, deram início às primeiras medidas que objetivavam reconduzir o Brasil à sua anterior condição de mera colônia subordinada aos interesses da metrópole.

As conquistas granjeadas ao longo de mais de doze anos, não se restringiram ao plano sócio-econômico-cultural ; determinados brasileiros, entre os quais os irmãos Andradas, não estavam mais dispostos a viverem sob o jugo das Cortes portuguesas, o que deixava claro que tais conquistas também se faziam sob o aspecto político.

Sepetiba, testemunha, já em Dezembro de 1821, a passagem de um emissário: Pedro Dias Pais Leme – que vindo do Rio de Janeiro seguiria em direção à província de São Paulo.Com a chegada dos decretos autoritários provenientes das “cortes lusitanas” e o aprestamento da fragata “União” que deveria reconduzir o príncipe regente (D. Pedro I) a Lisboa, foi iniciado no Rio de Janeiro um movimento que se destinava a receber assinaturas objetivando pleitear que D. Pedro I permanecesse no Brasil, o que já seria “um bom passo em direção da independência”.

Enquanto Paulo Barbosa da Silva era enviado a Minas Gerais, Pedro Dias Pais Leme seguia para São Paulo:

“ ... viajando a cavalo até Sepetiba e servindo-se de barco a vapor, provavelmente um dos primeiros introduzidos no Brasil, na viagem daí até Santos (ou de simples canoa, como asseveram muitos historiadores) Pais Leme chegou a São Paulo na noite de 23 de Dezembro de 1821 (...)”

Eis que entra em cena José Bonifácio de Andrada e Silva, cognominado “o patriarca da independência”, mas rechaçado por muitos quanto a essa lisonja, em particular por determinados setores da Maçonaria. Coube ao sexagenário santista redigir, com grandiloqüência exigida pelo estilo de época, uma carta, que bem definisse a disposição dos brasileiros, em particular, dos paulistas, de não se intimidarem mais perante a metrópole.A carta, sem qualquer exagero, pesava como uma declaração de predisposição à independência.

Dizia o velho Andrada, entre outras coisas: “(...) V.ª real deve ficar no Brasil quaisquer que sejam os projetos das Cortes constituintes não só para nosso bem geral, mas até para a independência e prosperidade futura do mesmo Portugal. Se V.ª real estiver ( o que não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso decreto de 29 de Setembro, além de perder para o mundo a dignidade (...) homem e de príncipe, tornando-se escravo de um pequeno número de desorganizadores,terá também que responder, perante o céu, do rio de sangue que decerto vai correr pelo Brasil (...)”

D. Pedro I ficou entusiasmado com aquela missiva, tanto que determinou logo a sua divulgação, embora a publicação somente fosse ocorrer no dia 8 de Janeiro (véspera do “dia do Fico”) nas páginas da “Gazeta do Rio”.

Os Paulistas não ficaram satisfeitos com apenas o envio daquela carta e logo nomearam quatro representantes para entregarem, no Rio de Janeiro, uma representação a D. Pedro I. Provenientes de Santos, viajaram embarcados em um navio a vapor até Sepetiba, onde chegaram em 17 de Janeiro. “ Sepetiba, como se sabe, fica perto de santa Cruz, local da antiga fazenda dos Jesuítas, incorporada aos bens da coroa, que D. João VI tanto freqüentava e de que D. Pedro I também muito gostava. Na ocasião da chegada de José Bonifácio e de seus companheiros, havia em Sepetiba, por causalidade, um carro de posta e nele partiram os viajantes em direção a Santa Cruz, tornando assim desnecessários os cavalos mandados pela Princesa D. Leopoldina, então refugiada com os filhos na fazenda real, em conseqüência de perturbações da ordem no Rio de Janeiro”.

Aliás, é bom que se diga que a fazenda de Santa Cruz, serviu , no I império, pelo menos uma outra vez para proteger a família Imperial: em 1831, quando os ânimos se acirravam contra o já imperador D. Pedro I, foi cogitada a vinda do monarca para cá e daqui organizaria uma resistência, o que não se concretizou, pois D. Pedro I resolveu abdicar o trono em favor de seu filho.

Foi em Sepetiba o encontro de José Bonifácio com D. Leopoldina, embora alguns historiadores afirmem que esta reunião teria sido realizada na sede do palácio imperial em Santa Cruz. Octávio Tarquínio de Sousa, na sua biografia de José Bonifácio afirma:

“A primeira mulher de D. Pedro I, dada a estudos de ciências naturais e seduzida pela causa da emancipação brasileira, deveria entender-se muito bem com José Bonifácio. Esperando a representação paulista, já no dia 16 ( Janeiro de 1822) D. Leopoldina estivera em Sepetiba, e , ainda para recebe-la, fazia no dia seguinte a mesma viagem a cavalo quando, no meio do caminho, entre santa Cruz e aquele lugar, a encontrou. Os paulistas e D. Leopoldina entretiveram conversa bastante cordial, sendo que a princesa não conteve o seu “sumo contentamento”, para repetir a expressão de documento oficial que resumiu as minúcias do encontro."

Já na madrugada do dia 18 de Janeiro de 1822 José Bonifácio e demais membros da comissão proveniente de São Paulo partiram para o Rio de Janeiro onde D. Pedro os aguardava.

O simples transito por Sepetiba de personalidades que participaram diretamente e efetivamente de fatos históricos que culminaram com a proclamação da independência do Brasil, já constituem exemplos edificantes para serem observados por todos os sepetibanos que lutam por melhores condições econômicas, culturais e sociais para aquele antigo povoado, colônia de pescadores (...).